O Brasil tornou-se um país produtor de vinhos a partir dos anos 1875, em decorrência do desenvolvimento desta atividade pelos imigrantes italianos que se estabeleceram no extremo Sul do país, na região da Serra Gaúcha localizada no Estado do Rio Grande do Sul, região que hoje possui ao redor de 15 mil famílias de viticultores.
A área total de vinhedos no Brasil situa-se ao redor de 80 mil hectares, tendo como destino a elaboração de vinhos - envolvendo 1.100 vinícolas, suco de uva e a produção para o consumo in natura.
A percepção do vinho pela sociedade brasileira, seja como produto de consumo ou como valor cultural, é tão diversa quanto diversa é a sua cultura. Mas é fato evidente que o vinho tem despertado crescente interesse do público consumidor brasileiro, caracterizando, nos últimos anos, um mercado com tendência de crescimento. A abertura comercial ocorrida a partir dos anos 1990 no Brasil, oportunizou a ampliação do acesso também aos vinhos de outros países produtores no mercado interno, o que pressionou um movimento empreendedor de base tecnológica e gestão, visando manter competitiva a produção nacional, que resultou no aprimoramento qualitativo dos vinhos brasileiros. Fato evidente está na diversificação das regiões vitivinícolas produtoras de vinhos finos, agora encontradas nas Regiões Sul, Sudeste e Nordeste do país, com a presença tanto de produtores tradicionais como de novos investidores que entraram para a atividade.
Mesmo tendo em conta que a produção brasileira de vinhos e espumantes atende a 60% do volume consumido no país, com uma presença ainda modesta no mercado internacional, a fatia dos vinhos finos é majoritariamente ocupada pelos vinhos importados, sobretudo oriundos do Chile, de países do Mercosul e de países da União Europeia, o que situa o Brasil como país consumidor - produtor e importador ao mesmo tempo.
O marco legal brasileiro do vinho encontra ampla regulamentação, assegurando uma produção equalizada a padrões internacionais de referência, com posicionamento aderente às recomendações emanadas pela OIV, instituição da qual o Brasil é membro. Do ponto de vista da proteção, política fiscal e aduaneira, são escassas as políticas públicas em relação ao que seria necessário para melhor apoiar a atividade, no sentido de garantir a competitividade do setor vitivinícola brasileiro neste mercado aberto. Mesmo sendo atividade geradora de emprego e renda, envolvendo, sobretudo nas regiões tradicionais, o pequeno produtor, não há política de subsídios específica para o setor vitivinícola.
Este número especial do Brasil da revista Territórios do Vinho explora, na visão de autores qualificados, temas atuais da diversidade brasileira no universo do vinho, incluindo abordagens como a história do direito do vinho, a cultura e o patrimônio do vinho, as paisagens vitícolas e o crescente enoturismo no país. Aprofunda o diagnóstico em cinco novas regiões vitivinícolas produtoras de vinhos finos, localizadas em climas que vão do temperado ao tropical. Apresenta as qualidades e tipicidades dos vinhos de diferentes regiões, bem como faz uma caracterização do nível tecnológico da indústria vinícola, mostrando também os avanços obtidos na estruturação de indicações geográficas de vinhos brasileiros.
Para contemplar a amplitude representada pela viticultura e pela agroindústria vinculada à produção de uva no Brasil, este número mostra, também, o dinamismo da participação do país como produtor, consumidor e exportador de uvas de mesa e de suco de uva.
Jorge Tonietto (Embrapa Uva e Vinho), Rosa Maria Vieira Medeiros (UFRGS) e Ivanira Falcade (UCS)
Coordenadores brasileiros do número especial do Brasil da Revista Territórios do Vinho.